Em Gálatas 5.1 está escrito: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão”. À primeira vista, a leitura desse único versículo dá a impressão que o apóstolo Paulo está orientando os cristãos a ignorarem as ordenanças do NT caso sintam-se orientados pelo Espírito Santo a fazê-lo. Isso não é verdade.

Nem é preciso dizer que o apostolo dos gentios praticava, em plena comunhão com a igreja, as ordenanças ensinadas pelo Senhor Jesus. Não só praticava como ensinava a observação das mesmas de forma correta. Um exemplo bem claro do seu zelo pelo correto cumprimento das ordenanças é encontrado na sua primeira carta à igreja de Coríntios  (1 Coríntios 11.17-34). Nesta epístola lemos o apostolo repreendendo alguns irmãos que teriam causado transtornos quando participavam da Ceia do Senhor.

Por isso, dizer que este verso de Gálatas 5.1 autoriza qualquer crente a ignorar as ordenanças ensinadas no Novo Testamento é um erro gravíssimo. Esse equivoco de interpretação ocorre somente se pegarem o referido versículo e isolá-lo das demais passagens constante no mesmo capítulo ou em outros da mesma carta. Portanto é um erro desconsiderar ou deixar de estudar todo o fluxo de pensamento do autor em derredor deste mesmo verso. Desta forma, desde o momento em que se pretende estudar e interpretar textos como este, é imprescindível considerar o contexto imediato do mesmo. E um contexto imediato incluirá os parágrafos imediatamente antes e depois do versículo que esta sendo estudado. Assim, é falta grave para um interprete da Bíblia Sagrada, estudar apenas o meio-pensamento de uma passagem, isolando-a do contexto imediato que o cerca, como se fosse um pensamento inteiro.

Sendo assim, para interpretar corretamente Gálatas 5.1, o interprete deve considerar este versículo em conjunto com o parágrafo que vem logo depois dele. Fazendo isto se perceberá logo no próximo verso, ou seja, em Gálatas 5.2 a complementação do versículo anterior, onde está escrito: “Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará.” Percebe-se então, que o apóstolo dos gentios não estava dizendo que o julgo da servidão referiasse as ordenanças do Novo Testamento. Ao contrario, a leitura e estudo do pensamento inteiro desse trecho bíblico, fará qualquer estudante entender que esse julgo sobre o qual Paulo recomenda para que a igreja não se submeta a ele, refere-se a imposição da circuncisão sobre os crentes gentios por parte dos judaizantes e ao julgo da lei mosaica como requisitos para a salvação. Assim, Paulo quis ensinar que todos os crentes em Jesus foram libertos da lei e do pecado para viver uma vida com liberdade e responsabilidade.

Sobre o referido versículo ainda, o Dr. Lawrence O. Richards Comenta: “Claramente, a liberdade cristã não é independência, nem o direito de fazer qualquer coisa que desejamos. A liberdade cristã é uma dependência do Espírito, que nos liberta da escravidão do poder do pecado que habita em nós. E o exercício da nossa liberdade consiste em vivermos uma vida disciplinada, fazermos o bem, e sermos bons (O. Richards, Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento, CPAD, p. 411)”.