Quem vem acompanhando o meu blog nestas últimas semanas percebeu que postei alguns textos tratando sobre erros de interpretação de certos versos da Palavra de Deus. Esta postagem não será diferente. Escreverei sobre a falsa acusação de que o texto de João 6.53 instituiu o canibalismo como um rito da igreja primitiva. Atualmente este assunto parece ser irrelevante para estudiosos das Escrituras, mas quando estudamos a história da igreja aprendemos que os primeiros cristãos foram ferozmente acusados de canibalismo por celebrarem a Ceia do Senhor com o pão e vinho como símbolos do corpo e sangue do Senhor, pois o próprio Jesus havia dito que quem não comesse a “carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos”. Estas palavras chocaram os judeus e alguns discípulos que ouviram Jesus na época que a entenderam como sendo literalmente carne e sangue, a ponto de alguns O abandonarem (João 6.60,66). Até mesmo os próprios pagãos de Roma entenderam estas mesmas palavras de Cristo como uma incitação ao canibalismo.

Não há dúvida de que esse entendimento de João 5.53 esteja equivocado. Esse erro de interpretação se deu na verdade porque as palavras “carne” e “sangue” contido no referido verso não foram entendidas como uma expressão figurada. É impossível o ato de canibalismo ter respaldo bíblico, principalmente pelo fato do próprio Deus ordenar ao seu povo que não consumisse sangue. Sobre esta ordenança, no livro de Levítico está escrito o seguinte: “E qualquer homem da casa de Israel, ou dos estrangeiros que peregrinam entre eles, que comer algum sangue, contra aquela alma porei a minha face, e a extirparei do seu povo. Porque a vida da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas; porquanto é o sangue que fará expiação pela alma, Levítico 17.10,11”.

Assim, beber sangue era completamente proibido para o judeu. E, como punição, o individuo era expulso do relacionamento e concerto com a comunidade e Deus. Portanto, a expressão “carne” e “sangue” não legitimam o canibalismo por ser este termo uma figura de linguagem que expressa uma verdade espiritual.

Assim, para se interpretar corretamente o texto de João 6.53, primeiro devemos entender se o referido versículo deve ser interpretado literalmente ou de forma figurada. Para isso, a primeira coisa que o interprete deve perguntar a si mesmo seria o seguinte: “caso este verso fosse entendido literalmente expressaria uma contradição da vida real, ou soaria um Absurdo?”. Fazendo isso, se perceberia facilmente que o canibalismo além de ser crime não tem apoio em nenhuma sociedade civilizada e muito menos na Palavra de Deus.

Outra forma que ajuda o interprete na análise desta mesma passagem, seria procurar explicações no contexto. Um exemplo seria João 6.63 que diz: “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos disse são espírito e vida”. Observe que na última parte deste verso o Senhor esclarece que as palavras que ele disse “são espírito e vida”. Desta forma, as palavras “carne” e “sangue”  contido no texto de João 5.53, devem ser entendidos figuradamente como o ensino de uma verdade. Esta verdade nos revela que todas as pessoas recebem vida espiritual  quando crer em Jesus.